VOZES DA SAUDADE




Ausência, saudade
que transborda em dor.
As cores do sofrimento
serão retratadas como que
por pintor insandecido
que a tudo pintará com
tons de vermelho opaco.
Serão cores que denunciarão
que existem paixão e dor,
que vive no coração
um ardente desejo
que não consegue realizar.
E neste concluir da impossibilidade,
todo um desatino, ao sentir apagada
a linha existente
entre a realidade e a fantasia.
Talvez queime em febre,
tenha delírios de moribundo.
Sinta definhar o resto
de seu raciocínio avariado.
Mortifique a sua razão,
nem mesmo o recurso
da moral ou do pudor
haverão de conter as dores
da vontade ferida.
Transborda o querer
da sua individualidade,
como que veio de água
que quer romper
a superfície do solo.
E num sublimar de si,
retormando a esperança,
a capacidade de sonhar,
transbordando em sentimentos,
transformando-se em líquido,
e este ganhando plasticidade.
Ser água desejando
outras águas, como que
um riacho a querer
encontrar outro pequeno rio.
Para, como dois riachos,
mesclarem-se em encontro.
Recebendo e doando águas,
num único encontro
de onde surge um único rio,
que não se sabe se tem águas
calmas ou turbulentas,
mas sabe-se que corre para o mar,
tentando definir os mistérios
dos caminhos da paixão e do amor.

Gilberto Brandão Marcon
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MUSA




Mito, deusa em flor,
A aspergir benção de amor,
A burilar esculturas de silêncio.

Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Resevados


ENCANTOS TEUS



Quando o percebido pelo olhar se expressar em palavras,
haverei de descrever duas faces mescladas em destinos.
Direi que em algum lugar se ouvia música que tocava o coração.
Indicarei que o tempo se perdeu, e a preguiça divaga leve.
E que terei direito a tal descanso, que esquecerei o cansaço.
A memória se fará generosa, se abrirá para boas lembranças.
A imaginação se fará fértil e encantará com tantos sonhos.
Alguém raro, jóia preciosa, estrela de meu céu de luzes.
Verei teu nobre perfil vestido por translúcidas nuvens,
e teu corpo entre desnudo e cheio de pudores há de encantar.
Lembranças feminis, um toque delicado, uma voz suave.
Fragrâncias de uma epiderme, brilho de olhar, um sorriso.
Brincarei de saudade, e terei ilusões com o tempo futuro.
Não serei poeta, mas apenas abrigo para surgir a poesia.
Letras livres, versos que foram escritos por puros sentimentos.
Libertos como que o alto voo das águias, como cavalos selvagens.
Na ingenuidade, haverá um tempero de um toque de sensualidade,
pois que a sedução provoca quando a química do corpo se encanta,
pois que o verbo fica versátil quando as energias da alma se cruzam.
E o calor do afeto se fará terno, e a paixão desafiará o amor.
Musa etérea que vaga em trilhas oníricas, corpo de mulher.
Quais linhas divinas te deu o Criador, qual delícia, filha de Eva?
Atenta contra as virtudes que fogem dos desejos, mas é santa,
é anjo do céu, é beleza em flor, pois que deixa ébria a razão.


Gilberto Brandão Marcon
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SERES DA NOITE





Madrugada, perfumes florais,

Silêncio, ouço a folha que cai,

Vento viril beija a brisa feminina.


Gilberto Brandão Marcon

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ÊXTASE



Resta agora apenas uma silhueta,
um perfil de belas curvas.
Uma personagem oculta,
um ser cheio de vida
ocultado pelas sombras.
Atriz principal neste quadro
pintado com tons de sensualidade.
Imagem cheia de silêncio meditativo,
misturada apenas a sons da natureza.
Não existem mecanismos ou engrenagens,
mas uma alma primitiva e bela.
O movimento se faz como que anestesiado,
com uma lentidão agradável.
No cair de uma tarde o sol crepuscular
denuncia os seus últimos raios dourados.
O vermelho da paixão. O alaranjado da vida.
E o azul pacificador da noite que chega.
As rarefeitas nuvens vão ganhando
tonalidades diferentes na transformação do dia.
Antes cheias de cores solares,
agora azuis prateadas pelas emissões lunares.
Por entre os traços de nebulosidade
brilham estrelas que ocultam os seus pendores.
O coração está cheio de uma falsa calma,
enquanto o cérebro preguiçoso relaxa.
Como que numa leve brisa
as idéias vão surgindo,
dando corpo a um poema.
São letras que se acasalam
produzindo uma forma estética
e uma expressão sonora.
Passa o tempo, o escuro da noite
toma conta da abóbada celeste,
ganha profundidade.
Uma expressão de promessa,
um convite ao desejo,
criando a lembrança do olhar feminino.
Olhos de deusa celestial.
E num ínfimo instante se recria
um novo mundo imaginário.


Gilberto Brandão Marcon
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SENSIBILIDADE
Dueto Gilberto Brandão Marcon & Roberta Marcon






Sentir o que os outros não veem,

Ser como os outros não entendem.

Buscar com loucura o que se ama

E encontrar às vezes mais, às vezes menos...

(Roberta)

Duvidar que o que não vê não existe,

Não perceber que, acima do entendimento,

Está a dedicação e a obstinação de cada ato.

E se meu olhar não te vê, nada vejo então.

(Gilberto)

Uma surpresa agradável,

Uma alegria frágil demais para resistir

Quando a mágoa chega,

Mas uma vontade imensa de equilibrar sentimentos.

(Roberta)

Temo o inesperado, desconfio da sorte.

A alegria é como a flor, tão frágil como bela.

E a mágoa que é dor indesejada, mas presente.

Amor não é só acaso, mas também dedicação.

(Gilberto)

Uma criança inocente,

Uma malícia sem maldade.

A certeza de ter razão,

E o defeito de achar que não a tem.

(Roberta)

Não saberia ser inocente,

Pois sinto-me eternamente culpado.

Não teria malícia por ser demais ingênuo.

Não discutiria a razão por ter obstinada teimosia.

(Gilberto)

Necessitar de carinho como da luz e do ar.

Perceber a estética das coisas

E guiar-se por ela,

Tornando-se fútil.

(Roberta)

Não tenho a luz ou ar, apenas a atitude.

Só aprecio a estética da liberdade,

Por ela até renuncio a parte dela mesma.

Franco demais para compartilhar futilidades.

(Gilberto)

Mas uma futilidade que se torna saudável,

Quando observados os valores internos.

Tentar discernir o bem do mal

E ser levada, às vezes, pela dúvida.

(Roberta)

A futilidade nunca é saudável,

Melhor será sempre a verdade,

Mesmo que implique em intensa dor.

Dúvidas eu tenho, mas amo a justiça.

(Gilberto)

Falta de estabilidade

Que traz insegurança e sofrimento.

Ser uma peça inquebrantável

E flexível, como os juncos que se curvam.

(Roberta)

Na instabilidade de mim, a certeza de ti.

Estúpido em atos, mas nunca em coração.

Não cabe a ti o desafio da força, mas a mim.

O que encanta-me é a flexibilidade que não tenho.

(Gilberto)

Juncos que na tempestade tocam o chão,

Mas continuam plantados.

E amam o vento que não conhece

A própria força.

(Roberta)

Não dobro-me ao vento, sou como o carvalho,

Cairei em batalha, talvez inútil, mas será meu destino,

Ama mais enfrentar o vento do que a própria vida.

Talvez faça parte dele, mas atrai-me tua brisa.

(Gilberto)

Gilberto Brandão Marcon

& Roberta Marcon

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Áudio:

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