APAIXONADOS




Meia luz, música que se espreguiça,

e os ouvidos são despertados, lentamente.

Cheiro de perfume raro, o olfato viaja,

os olhos estão guardados sob as pálpebras.

Existe o calor das energias corpóreas.

Tudo parece ser apenas extensão dos seres,

um ambiente que os toma em seu abraço,

o quarto que os guarda no leito do seu colo.

Pensamentos enamoram-se por sentimentos,

e o cérebro se abandona ao pulsar do coração.

As emoções mesclam-se num correr de riacho

Com uma expectativa de lava vulcânica.

Tudo se expande, os móveis fazem parte do corpo.

Porta e janela os guardam de um mundo externo,

a interioridade se faz presente, vivem pela paixão.

Perdidos dos dias, entram na alcova da noite.

Despem-se das personalidades, dos perfis,

para ficarem livres, numa busca íntima,

numa procura onde o encontro já traz saudade

e o momento se fará presente em memória.

E lá fora todo o mundo escorre de cotidiano.

As ruas se desoneram dos viventes e seus veículos,

e o agitar das rotinas, o cumprir dos horários

ficam perdidos, tudo acaba absorvido pelo silêncio.

Surge uma estranha solidão a dois,

um mundo particular indivisível,

o lugar oculto de todo o cotidiano,

numa hora inexistente nos relógios.

Gilberto Brandão Marcon

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