Meia luz, música que se espreguiça,
e os ouvidos são despertados, lentamente.
Cheiro de perfume raro, o olfato viaja,
os olhos estão guardados sob as pálpebras.
Existe o calor das energias corpóreas.
Tudo parece ser apenas extensão dos seres,
um ambiente que os toma em seu abraço,
o quarto que os guarda no leito do seu colo.
Pensamentos enamoram-se por sentimentos,
e o cérebro se abandona ao pulsar do coração.
As emoções mesclam-se num correr de riacho
Com uma expectativa de lava vulcânica.
Tudo se expande, os móveis fazem parte do corpo.
Porta e janela os guardam de um mundo externo,
a interioridade se faz presente, vivem pela paixão.
Perdidos dos dias, entram na alcova da noite.
Despem-se das personalidades, dos perfis,
para ficarem livres, numa busca íntima,
numa procura onde o encontro já traz saudade
e o momento se fará presente em memória.
E lá fora todo o mundo escorre de cotidiano.
As ruas se desoneram dos viventes e seus veículos,
e o agitar das rotinas, o cumprir dos horários
ficam perdidos, tudo acaba absorvido pelo silêncio.
Surge uma estranha solidão a dois,
um mundo particular indivisível,
o lugar oculto de todo o cotidiano,
numa hora inexistente nos relógios.
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