AS PRIMEIRAS PAIXÕES




A solidez da rocha,
Imóvel a desafiar o tempo.
O renegar dos sentimentos,
Seu movimento e inquietação.

Efêmeras e belas são as paixões.
No seu risco a atração da posse.
O nutrir do instinto da conquista.
E a realidade fazê-las desilusões.

Qual alto voo e intensa queda.
O gozo alegórico do instinto,
O desencontro com a virtude.
E corpo e alma digladiam-se.

E nem forte e nem fraco.
É apenas o olhar que fica vazio.
Um cansaço que vem da alma,
Juventude que não quer morrer.

E pensar substitui o viver.
E as linhas fogem das carícias.
E as letras rebelam-se revoltas,
E todo pudor se perde em desejo.

Partes compõem um todo.
É pele de onde emana perfume.
É boca que anuncia sorriso,
É olhar que convida à loucura.

E não há de ser menino
Quem já vive em corpo de homem.
E não há de provar doçura,
Quem conhece o amargor final.

E o divagar a tudo permite.
E o incômodo das horas tudo cobra.
E existe tanto trabalho nesse vadiar
Que esgota-se sem mover o corpo.

Não sabe se ri, ou se chora,
Mas se descobre partido
Para desvendar-se íntegro,
Para tornar-se dono de si.

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Gilberto Brandão Marcon